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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ACADEMIA DA INCERTEZA

ACADEMIA DA INCERTEZA

“Quando os sopros de seus ancestrais querem soprar a vela
(graças à qual, talvez, perduraram os caracteres do livro de magia) 
– ele diz ‘Ainda não!’”. -

Mallarmé - Caminhava Narciso pela estrada,
A desdenhar as Nornas e o Porvir.
Sua sorte zombou em meio à jornada
De um velho crânio arfado por ali. 
Disse-lhe: "Sois Musa abandonada 
"Dos Poetas que viram o sol cair. 
Se não mais entoam à madrugada, 
Por que, ó ossada, estás a me sorrir?" 
O crânio retrucou: "Tolo! Infeliz! Não sabes? 
A Lua canta, o Corvo diz: 'Nunca Mais!...' 
Olhai, aos teus pés, quanto húmus!"
“Enquanto o galo canta um novo dia, 
Os vates lembrarão: 'Melancholia!...'
Ó, Narciso, Pulvis et Umbra Sumus!".

Gleudson Passos 
Vila do Forte, abril de 2009

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Poesia de apoio ao Ateu Poeta

Poesia de apoio ao Ateu Poeta

O vento é o deus

Do Ateu Poeta


Atém o Ateu no alto

Em cada lufada
Uma upada

A comunidade
Tomada de assalto

Mas Ateu é um bom camarada
Não tem salto alto

Só quer mostrar pra nós
(isso sem falsa aparência)
Sua verve e voz
E ficar em evidência


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A PEÇA

A PEÇA


Lá esta você, solitária
Vendo a peça a me esperar
Suas palmas ecoam pelo teatro vazio
E mesmo que a multidão tomasse conta das cadeiras
O lugar iluminado seria o seu


A cortina se fechou
E a luz se apagou
Como num toque de mágica tudo acabou
Escrevi um romance e atuei feito uma tragédia grega
Uma história que só tinha eu, você e o amor

Consegui errar em tudo
Você se foi
Minha arte foi um fracasso
Minha obra saiu de cartaz
E sobrou um sorriso sem graça de um artista decadente

Lá esta você, solitária

Rindo da minha atuação
Eu não me importava de ver só você na minha plateia
A minha alegria era o teu sorriso

O fim era anunciado
Eu tinha apenas uma noite para provar que o amor era de verdade
E que a minha vida sempre imitou a arte

Escrevi um romance
Acho que errei em alguma escrita
Porque a peça acabou
E você se foi junto com o meu amor

Marcos Ferna
Veja mais do autor em: 

RECUSO-ME

RECUSO-ME

Seca o ventre
Da relva rasa
Abre o vulto
Suja o rosto
De banalidade flácida
Hoje sou Sylvia Plath

Conter a peste
Da mente presa
Cega o passo
Do cuspe vago
Logo empurra o êmbolo
Hoje sou Ana Cristina César

Fresta fria
Na frente do olho
Rompe o micróbio
Fuga reta
Valido sintoma próximo
Hoje sou Torquato Neto

Rege a febre
Acusa o vírus
No colo velho
Cobre o muro
De gaze etérea e tóxica
Hoje sou Walter Benjamim

O calo na fossa
Passa lento
Engole o caso
E o crime surdo
De melancolia última
Hoje sou Virginia Woolf

Por acaso

ROBSON
Veja mais do autor em: http://www.robsonbreno.blogspot.com/

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

CIBERNÉTICA X HUMANIDADE



CIBERNÉTICA X HUMANIDADE

Quanto mais uso a internet, mais falta eu sinto do calor humano. Eu sei, com a tecnologia a gente se diverte, mas parece que me isolo a cada ano. Sinto falta dos reais amigos, das vozes, sotaques, trejeitos singulares, das longas conversas, apelidos, piadas, gargalhadas, e sentimentos que brilham nos olhares; das brincadeiras e bagunças nas madrugadas, dos abraços macios e inocentes afagos.


Não me lembro mais de uma desculpa ao-vivo, sequer de discussões sadias que precisamos. Nossos corações se tornaram um crivo. Somos seletivos demais, aprendemos de menos. Desviamos nosso foco da plena interação, paradoxalmente à cibernética atual. A lógica permeando cada vez mais a comunicação e as palavras tornando-se frias nesse mundo virtual.

Confiamos mais nas máquinas do que em nós mesmos. Temos corretor ortográfico, mas corretor espiritual não usamos. Robotizamos o coração, pois não temos tempo para os outros. Sei que ainda vale devanear no vale das poesias e reativar nossas sensações e pontos cognitivos, mas temo que no futuro só falemos:

Do amor intrínseco entre o circuito integrado e a placa eletrônica, do brilho intenso do LED, do frescor artificial do Cooler, da conexão energética e sensual entre periféricos e portas USB, do colorido porta-retratos em 3D, com fragâncias "reais" da bela moça e de sua flor no cabelo, dos mistérios nebulosos ocultados nos Emotions e codinomes, das flores, plantas, frutas e corpos plastificados, dos robôs eróticos e seus apetrechos gelados, das senhas de acesso e logins desvirginados, do fluxo veloz dos dados e demais derivados.

Que meus genes não sejam influenciados a ponto de meus filhos se tornarem alienados, pois nada mais envolvente, benéfico e primordial do que conhecer, interagir, compartilhar e amar pela forma mais genuína da vida.

Daniel H. M. de Carvalho

Veja mais do autor em: http://leduki.blogspot.com/

ESCRITO

ESCRITO

este lamento não tem som
pertence ao silêncio
e se compõe de inconcretudes

estes dizeres não têm forma
são ventanias
mas possuem a franqueza da rocha

se eu sangro pelas mãos
é porque os olhos já calaram
e a boca desconhece
as palavras que sinto

Celso Mendes

EXCITAÇÃO EM 300 DPI

EXCITAÇÃO EM 300 DPI

O lápis preto Nº2
aponta para o canto direito da minha boca
e cruzo os tornozelos,
num encaixe confortável.

Sabe, moço lindo,
mesmo sendo olhado pela milésima vez,
esse feixe de imagens não desiste
de me provocar
uma ignição férvida e molhada.

É que me atenho
ao enquadramento perfeito
do nosso beijo,
a concepção imaculada
do desejo
e do pecado original.

Aquela coisa linda,
docemente carnal,
e, mais ainda, com o gosto e o vício
inerentes ao que é segredo.

Olho para nós,
transfigurados em pixels,
detalhes inescapáveis,
que não me deixam dormir.

Quero de novo a tua boca
entre meus dentes,
entre minhas coxas,
me devassando toda
naquele quarto de aluguel.

Allanna C. R. Sanches

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

INVASIVO

INVASIVO

Entra, senta, estica as pernas, toma a metade da sala, quase se deita. Com seu jeito folgadão, acende um cigarro, empesteia a casa, fico eu com o tubo de Bom Ar envenenando meus pulmões cor de rosa. Aliás, outro dia fiz uma colonoscopia, deu tudo cor de rosa também. Interessante, sou Barbie por dentro.

Mas voltando ao Invasor: ele chega como a música do Chico Buarque: "sem muita conversa, sem muito explicar..." E vai ficando. Tenho que dizer: Ôh, por favor, quer desocupar a moita, pegar o beco, tomar um rumo...enfim, vá-se!

Fala grosso demais, a vizinhança toda escuta o vozeirão e a risada solta. Confesso que até gosto, às vezes. Outras vezes, ele me incomoda. Pois, afinal, o meu ano sabático foi construído às custas de muita solidão. Acostumei. Quero minha solidão de volta, meu sofá de dois lugares que a mim mal cabe, quero meu cinzeiro limpo, minha casa cheirosa, almoçar sozinha, escrever no bar. Quero. Sinto falta do mim, esse que ele invade sem cerimônia.

Outro dia pedi delicadamente "vá-se!", e me deitei e dormi. Acordei com o toque do telefone celular - era ele.

Noutro dia, quando coloquei meus dois pés que possuo no solo da cidade de São Paulo, botei o celular em on, ele começou a tocar...e tocou muitas vezes, até que tive que desligar. Pois não é que ele estava sentado no bar da esquina, me viu chegar com as malas...e suponho que queria que o avião tivesse aterrissado no heliporto inexistente do meu prédio, tal a pressa.

Às vezes penso que ele vai me consumir, vai me aspirar, vai...me matar mesmo, sabe como é? Estou sufocando, em fase de indecisão. Não estou acostumada com o amor.
É assim, isso?
OLGA Mota
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UMA DÚVIDA, UMA FANTASIA E DOIS LADOS

UMA DÚVIDA, UMA FANTASIA E DOIS LADOS
? é um gancho
Que pode rasgar
Bem no meio alguém
Que em duas partes
Então dividido fica

Assim não se esclarece
A dúvida primária
Do que é o Todo

Um ! de baseball
Também machuca
Mas o meu outro
Lado vai ceder
Se o tal de ?
Me pegar

E não dá pra sair
Por aí pulando
Igual Saci-Pererê
Com um taco na mão
Já pensou a guerra ?!

Sou apenas um.
Sem dois lados
Posso até ficar
Com os trapos
E um corte:
Se ele for pequeno
Nada que ... não resolvam

Mas se ele for grande
Até de cima dará pra ver
O resultado final = %

Daniel H. M. de Carvalho
09/11/2010
00:48 H
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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

DEMOCRACIA NO BRASIL, ISSO REALMENTE EXISTE?

https://jornaldelfos.blogspot.com.br/2011/02/democracia-no-brasil-isso-realmente.html
DEMOCRACIA NO BRASIL, ISSO REALMENTE EXISTE?

2011, pleno século 21, Brasil. Ouvimos isso em dois e dois anos, que o Brasil é um país democrático, mas será que isso realmente é verdade?Então vamos aos fatos...

Vamos iniciar a questão dos nossos votos e das eleições.

Primeiramente num país que possa ser democrático, porque somos obrigados a votar e não podemos de escolher?

Pois em termos é muito fácil uma votação obrigatória num país não se aprende a pensar em política, pois com isso, políticos usam massas como ideologias religiosas, periferias e outras coisas.

Virmos que em cada dois anos, os mesmos políticos, com as mesmas propagandas, mesmas músicas e com a mesma renda do setor privado. Vendo - que com o voto obrigatório, onde maior parte dos brasileiros não quer saber de política, acabam sendo convencidos com esse tipo de marketing excessivo, pois uma semana depois, se perguntarmos em quem eles votaram boa parte não irá lembrar, pois com isso, acaba desmerecendo pessoas que realmente querem votar e políticos verdadeiros acabam não sendo eleitos, pois em base não usa esse tipo de marketing em campanhas. Temos o exemplo de alguns candidatos como Marina Silva no Brasil, Luciana Genro no Rio Grande do Sul, Heloísa Helena em alagoas e entre outros.

Depois das eleições, os políticos começam a exercer os cargos, mas o que muda?Absolutamente nada, pois continuamos na mesma coisa. Eles prometem mais saúde, mais segurança, mais educação, e nada disso são resolvidas. Criam-se tampas buracos como bolsa isso, bolsa aquilo, UPAs, UPPs e outros tipos de propagandas eleitoreiras, pois isso não muda os assaltos na rua, os idosos não vão parar de morrer nas filas do SUS.

Pensamos em questão das UPPs. Em tese seria a solução na luta contra o crime organizado, mas isso continuou, porque as UPPs foram instaladas em lugares para beneficio próprio do governo e na população, olhamos que lugares como Copacabana, Ipanema, Jacarepaguá, tijuca são os lugares que tem UPP, Mas Realengo, Bangu, Campo Grande, Madureira não tem. E qual seria a diferença deles? Interesses privados e públicos, pois esses lugares terão acessos aos lugares onde terá as olimpíadas e a copa. Estradas são construídas em cima de comunidades para num futuro valorizar os lugares para eles próprios. Alguns lugares como batan são as exceções, mas se olharmos verá que as UPPs estão em lugares estratégicos para eles mesmos.

As UPAs, outro projeto tampa-buraco e eleitoreira, onde eles usaram o argumento de diminuir os atendimentos nos hospitais, mas nada mudou, pois uma vez lembro que fui duas vezes ao UPA, uma não fui atendido, pois não tenha ortopedista e a outra foi em questão da pressão, que mesma alta, Tive alta, mas isso em tese poderia funcionar, se também investisse em cada UPA, pudessem também investir nos postos de saúde, hospitais, mas não se criam mais UPAS e mais pessoas morrem em hospitais públicos por falta de medico e inadimplência do governo e investir neles.

Então para finalizar o texto, olhamos apenas o básico, mas num país onde você exerce a democracia, confia seu voto numa pessoa que possa fazer o melhor para sua comunidade e para o seu estado e virmos no mês seguinte, eles aumentarem seus próprios salários machucando a honra de um povo que confiou para representar e no final, eles pensam só neles, pois anos depois criam se discussão para aumentar simplesmente o salário mínimo de um povo que colocou eles no congresso, e outras coisas mais que ferem a população.
Mais na próxima eleição, isso tudo se repetirá...

O que precisa Mudar?

Muita coisa precisa-se mudar. Exemplos como a reforma política:

1. Obrigatoriedade da realização de debates políticos no horário nobre da televisão aberta;
2. Mudança de critério para definição de suplentes de Senador;
3. Restabelecimento do critério da proporcionalidade entre a bancada estadual e a população total do estado na formação da Câmara dos Deputados;
4. Proibição da comutatividade de cargo nos Diretórios dos Partidos de membros eleitos a cargos proporcionais (Deputado Federal, Deputado Estadual, Vereador) ou cargos majoritários (Presidente, Governador, Prefeito, Senador);
5. Voto aberto no Senado, Câmara de Deputados, Assembléias Estaduais, Câmara de Vereadores quando se tratar de apreciação de cassação de mandato;
6. Não obrigatoriedade do voto;
7. Ampliação do uso da Internet para acompanhamento dos atos dos governantes e dos parlamentares;
8. A renúncia de um cargo não livrar o parlamentar ou governante de ter seu processo de cassação finalizado e imputado sentença de perda de direitos políticos por prazo determinado;
9. Limites de reeleições para cargos legislativos (Vereador, Deputado, Senador)
10. Flexibilização das proibições a propaganda política na internet, mesmo fora do período eleitoral;
11. Fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais (deputados e vereadores).

Talvez com isso poderíamos alcançar a tão sonhada democracia

Além de política séria para educação, saúde e segurança e usá-las como prioridades, pois em países que não há democracia, os hospitais cubanos são de alto nível e todos são alfabetizados, então estamos no momento de pensar e analisarmos e quem poderão votar a não, temos todas as chances de escolhermos políticos sérios que possam fazer o melhor para sua população e não para si mesmo. Pense nisso...

JOSECLEI NUNES
Mais textos do autor em: http://joseclei.blogspot.com/

A MÃE DE TODAS AS CIDADES

A MÃE DE TODAS AS CIDADES

Soldados, do alto daquelas pirâmides quarenta séculos vos contemplam!
(Napoleão - ao chegar ao Egito)

Do alto daqueles satélites
espiões te contemplam,
agências se agitam
noticiando teu mais novo alvorecer...

E por breves dias
a mãe de todas as cidades
volta a ser centro do mundo.

Ah! Egito!
Viste passar por ti conquistadores
século atrás de século
mas nada aprendeste.

Teus reis dormem em museus, insepultos
e tuas areias escondem teu passado
mas é no presente que te esvais
ao lado do Cairo que se agita...

Ah, Gizé!
Tu que dormes sob os pés de turistas ávidos,
ansiosos por teu rei-menino
e suvenires de teus tempos de glória...

E tu, Nilo
que rasgas o véu do deserto
mas nada dizes.
Apenas avanças para o mar
fugindo do Egito em silêncio...

Marikesler

NO VERMELHO SIM, MAS NÃO DE LUTO

NO VERMELHO SIM, MAS NÃO DE LUTO

Saí por enquanto da corrida dos ratos.
Os felinos queriam me ver morto!
Agora é a minha vez de salivar
Em todos os pratos da casa.
Nada de ratoeiras da morte.
Pedidos só à la carte!

O cartão de ponto foi pro lixo
Se encontrar com seus parentes;
Restos de queijos perfurados,
Mal-cheirosos e envelhecidos,
Sucumbindo à céu aberto.

Fiquei aqui em outro nicho.
Longe de capitalistas devoradores
De dinheiro e cobiça, com as almas
Encardidas atrás dos sapatos lustrados,
Paletós passados, golas brancas
E maletas cheias de papéis inúteis,
Para impressionar os chefes.

Do currículo fiz um aviãozinho,
Como o das aulas remotas da escola
E arremessei pra bem longe!
Ele partiu num voo sem escalas,
Sem hora pra regressar, ele foge.

Estou no vermelho, mas não de luto!
Se for pra lutar de novo eu luto!
E se me permite, vou terminar
De saborear este meu charuto.
Au revoir, ou melhor, hasta luego...

DANIEL H.M. DE CARVALHO
Veja mais textos do autor em: http://leduki.blogspot.com/

PELOS CAMINHOS DA VIDA

Pelos caminhos da vida [II]
[o recomeço]


Se te pesa o fardo desta vida insana
e te invade o peito este temor dos dias
não te sintas fraco, pois a vida humana
qualquer dia destes traz-te as alegrias.

Mas, se te conheces, lembra que teus passos
muitas vezes seguem por caminhos tortos
sem sentires quanto pesa nos teus braços
toda a desventura de teus sonhos mortos.

Não te iludas nunca, pois que a cada instante
pondo as armadilhas nesta tua estrada
o destino segue, sempre mais adiante,
te esperando, às vezes numa encruzilhada.

Pensa um pouco e espera, pois há companheiros
que também caminham neste mesmo chão;
há quem dê seus passos como derradeiros
e outros que nem sabem mais aonde vão.

Nesta vida há muitos que carreguem dores
e os que as descarregam em qualquer lugar;
mas também teus males e teus desamores
na bagagem levas, sem vê-los pesar.

Nesta vida há tudo de bom ou ruim
e de todos nós não há quem consiga
percorrer a “estrada” que nunca tem fim
sem ser amparado numa mão amiga...

Mas, não pares nunca nesta caminhada
pois que a vida finda quando alguém o faz
e nem sempre a paz que é tão desejada
no final das contas se parece paz...

Reinaldo Luciano

Mais textos do autor no blog: http://cardiopoetica.blogspot.com/

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

CULTO AO PRAZER

CULTO AO PRAZER

É manhã. Oito horas. A chuva cai, molha a face, lava a alma, traz suspiro. Respiro. Passos longos, trêmulos me aproximam do meu destino, por enquanto é longe, longe, longe... Nesse intervalo penso qualquer coisa sobre as frutas que levo ali, sobre o tempo que se discorre, sobre as pessoas... Não! Melhor não pensar em pessoas.

Enfim, chego. Que bom que há braços que abraçam, trazem calma, segurança ao corpo todo que treme - pelo frio que faz, pelo calor do instante, talvez. Os lábios se tocam fazem-se abrigo. De tudo que há naquele espaço meus olhos fitam num canto um colchão, um altar. Havia um silêncio, por ora, apenas o que se percebia era o bastante: um altar, o silêncio. Porque para além daquele silêncio, existiam ali dois corpos que se comunicavam e uma sintonia que fazia um olhar compreender, ouvir o que o outro dizia; entender o que o corpo, santuário do outro, queria. Assim, sem muitas palavras, aliás, sem palavra alguma, entretanto num diálogo complexo, os corpos - ajoelhados - se falavam, se sentiam por inteiro em descoberta. O dia fluia em ritual e tudo era como um culto, nossos corpos, vinho, frutos em oferenda oculta ao prazer.


As unhas em carinhos leves nas costas descortinavam o corpo que a roupa escondia. Meus seios naquelas mãos. Meus olhos , sem outros que os vigiassem, agora podiam estar e estavam presos aos olhos famintos dele. Despia-me. De leve... Intenso... Em fogo! Corpos inquietos, contemplavam-se em brasa. Algo interior nos fazia inflamar, em chamas, como as das velas, acesas, reflexos reluzentes.


Um incenso aceso, a chuva fina na janela, vinho, duas taças. Não havia mais como duvidar, eu estava ali e era inteira sentidos dispostos ao prazer, entregues à loucura, aos devaneios de outrora. Este era meu desatino, refletido no olhos do mulato libertino. A cada instante melhor aquele corpo me falava dos seus desejos devassos, melhor sabia e melhor saciava os meus. Nesse diálogo silencioso as línguas brincavam, as bocas sorriam, gemiam, sussurravam. OS meus cabelos da cor daquela pele, estavam sobre a face do "mulato, pele negra, dente branco", estavam molhados de suor. Éramos posse do prazer.

Os nossos corpos nus exalavam perfumes de desejo, tentação em sabores. Tanto toque, circular, de leve, forte. Até que sinto o homem, haste em pico na língua, deslizando na saliva, preenchendo minha boca. E como na primeira vez, aquela boca em mim, flor de lótus posta, aberta, úmida pela talante, esperando o toque molhado, sutil e intenso daquela boca, a suavidade daquele movimento preciso de quem me queria pra si. Ponte pra unicidade dos corpos, para a comunhão. "Sente o vento nos teus cabelos?" - dizia o homem, "É a vida libertina que te toca". Viria o ápice do ritual. Pelo prazer! Pelo prazer um corpo sobre o outro se encaixava, lento, devagar se aconchegava, escorregava buscando abrigo. "Calma, sem pressa!". Perfeita simetria, perfeito movimento. Enfim, era meu, sendo meu era único (como me dissera outrora), éramos um. Era o princípio, o alfa, carinho, gemidos e gritos: prazer ao extremo reforçado pelos sentidos. As faces em êxtase, plenamente entregues à exaustão do desejo.

Três horas. O tempo, tormento! Se ia... O prazer era molhado, embebevecido pelo beijo, pelo suor. Gotas e gotas, o líquido sacro que escorria pelas coxas precedia e anuciava o estouro das nuvens, o tremor das pernas, o palpitar intenso do coração, o respirar ofegante. Delírios... Silêncio... Orgasmos.

Chuveiro gelado nas costas. Espumas de frescor, aquele corpo em minhas mãos, aquelas mãos nos meus mamilos endurecidos pelo prazer que aquela imagem me trazia. Água fria, nem ela pra dirimir o calor do fogo que se intalara naquele lugar.Purificamos e misturamos os nossos corpos, sacro e profano. Repetia-se o ritual. Profundo, perfeito como nunca houvera. Bebi a vida naquele dia, inebriada por longos goles de vinho, que dele vinha. Permiti-me entontecer. Senti o cheiro do proibido, provei do gosto do pecado naquele homem. Era místico tê-lo, guardá-lo dentro de mim, como se fosse meu, meu brinquedo, meu homem. Embriaguei-me do mulato, tinto sacro na tarde profana. Tão profana quanto calmo é o que é santo, vivi a calma do universo silencioso, silêncio que vinha das órbitas, dos deuses. Nada falava-se no Olimpo. A paz dos astros!

Cinco horas. Vi que o sol já se fora, a tarde caiu como a chuva que escorria na janela. Ficaram ali os meus cabelos, o meu suor, o meu cheiro. Pus-me de volta à realidade, à sanidade que a hipocrisia nos cobra, deixei de viver naquele fim de tarde, voltei a existir. Purificada pela comunhão dos corpos, pelo corpo curvado, servidão ao prazer. Fiz o que quis e ninguém seria capaz de ler na minha face ou na daquele mulato o ritual que a nossa exaustão escondia. Voltei à minha rotina, o homem voltou a dele. Os olhos que se devoravam, ainda famintos não mais fazem de si alimento... Até que o desejo das manhãs solitárias e a loucura das tardes silenciosas nos abrace outra vez.

YVANNA OLIVEIRA
Mais textos da autora em: http://assimsolta.blogspot.com/

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

UM NOVO ILUMINISMO

https://jornaldelfos.blogspot.com.br/2011/02/um-novo-iluminismo.html

UM NOVO ILUMINISMO

Depois do Iluminismo, o Homem passou a rever melhor suas crenças que aceitou sem usar a razão.Uns optaram pela liberdade racional e a maioria adaptou suas crenças, criando justificativas, atenuando os absurdos ou simplesmente fingindo que não existem.Alguns pensadores religiosos dão a impressão de criar uma nova religião, alegando que as escrituras não podem ser lidas literalmente e cada um cria seu deus particular.


Hoje, a sujeira que as religiões jogaram sob o tapete parece gritar a cada descoberta e a História nos mostra, a quem tem olhos de ver e até aos que não querem ver, cada mentira frágil que foi aceita sem questionamentos, com a velha ressalva que “religião não se discute”.

Cristãos frequentam as igrejas esperando um homem que morreu há 2000 anos, como se já tivessem colocado em prática os ensinamentos, que teoricamente significa mais compaixão entre todos e merecessem sua volta para recompensar a vaidade dos que se “santificaram” segundo suas crenças confusas.
A própria espera da volta de Jesus é um desejo baseado no orgulho, uma concordância com a injustiça e uma justificativa para o medo de encarar a vida de frente, a vaidade disfarçada que nada tem a ver com o “amor ao próximo”, já que está em jogo a salvação da própria pele.

A cada dia o Homem ascende e se liberta dos mitos do passado e as religiões são cada vez mais discutidas e questionadas.

O Universo é mais fascinante e grandioso que a criação do mundo revelada pelo deus dos judeus, Javé.
A moral do Homem é mais elevada que a de seus profetas.
A Justiça do Homem supera a de seus reis e profetas.
A sabedoria humana supera os deuses que o homem criou no passado.

Para o homem se libertar e viver em harmonia, solidariedade e amor ao próximo, precisa antes enterrar seus deuses e assumir sua responsabilidade que lhe é própria.

UBDeístas U.B.D.
Veja mais textos em: http://ubdeistas.blogspot.com/

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

EXAME DA ORDEM OU DA DESORDEM?

EXAME DA ORDEM OU DA DESORDEM?

A Lei 8.906/1994, publicada no DOU em 05 de julho de 1994, revogando a lei 4215/1963, introduziu no ordenamento pátrio, o novo estatuto da advocacia, regulamentando e modernizando a profissão de advogado. A nova Lei veio para readequar a profissão à nova perspectiva constitucional, vez que, a lei anterior havia sido criada na iminência de um regime de exceção. Com a promulgação da constituição de 1988, far-se-ia necessário a readequação da boa parte das Leis vigentes, apesar de que, muitas delas tenham sido absolvidas pelo novo regime constitucional.

No caso do Estatuto da Advocacia, o legislador ordinário, achou por bem reedita-lo, fazendo assim, também, uma readequação dos quadros administrativos e na forma de ingresso, e ainda determinando a criação de um Código de Ética dos advogados, que traça princípios e diretrizes de trabalho para o profissional advogado.

Preteritamente a edição do novo estatuto da advocacia, Lei 8.906/1994, a função de advogado era regulada pela lei 4215/1963, que dispunha no artigo 48 que para se inscrever na ordem, far-se-ia necessário a prática de estágio jurídico ou habilitação no Exame da Ordem, se não vejamos:


Art. 48. Para inscrição no quadro dos advogados é necessário:

I - capacidade civil;
II - diploma de bacharel ou doutor em Direito, formalizado de acordo com a lei (art , 57);
III - certificado de comprovação do exercício e resultado do estágio, ou de habilitação no Exame de Ordem (arts. 18, inciso VIII, letras a e "'b" e 53) ;
IV - título de eleitor e quitação do serviço militar, se for brasileiro:
V - não exercer cargo função ou atividades incompatíveis com a advocacia, (arts. 82 a 86) ;
VI - não ter sido condenado por sentença transitada em julgado em processo criminal, salvo por crime que não importe em incapacidade moral;
VII - não ter conduta, incompatível com o exercício da profissão (art. 110, parágrafo único);
Parágrafo único. Satisfazendo os requisitos deste artigo, o estrangeiro será admitido à inscrição nas mesmas condições estabelecidas para os brasileiros no seu país de origem, devendo exibir diploma reavaliado, quando não formado no Brasil.

(Grifos nossos)

Neste contexto, é possível vislumbrar que existiam dois caminhos que levavam à inscrição, quais sejam: Aprovação em estágio OU Exame da Ordem, este último, forma mais evasiva de avaliação profissional, vez que, impossibilita o profissional de demonstrar com plenitude a sua capacidade intelectual, profissional e persuasiva, esta que é extremamente necessária ao profissional do direito.

É importante ressaltar que, o exame da ordem, na vigência da Lei 4215/1963, far-se-ia necessário, tão somente em casos em que o bacharel não tivesse feito o estagio profissional ou não tenha obtido resultado satisfatório no referido, conforme expõe o artigo 53 da lei aludida:

Art. 53. É obrigatório o Exame de Ordem para admissão no quadro de advogados, aos candidatos que não tenham feito o estágio profissional ou não tenham comprovada satisfatoriamente o seu exercício e resultado (arts. 18, inciso VIII, letras a e b; 48, inciso III, e 50).



§ 1º O Exame de Ordem consistirá, em provas de habilitação profissional, feitas perante comissão composta, de três advogados inscritos há, mais de cinco anos, nomeados pelo Presidente da Seção na, forma e mediante programa regulado era provimento especial do Conselho Federal (art. 18. inciso VIII, letra b) .



§ 2º Serão dispensados do Exame de Ordem os membros da Magistratura e do Ministério Público que tenham exercido as respectivas funções por mais de dois anos, bem como, nas mesmas condições, os professores de Faculdade de Direito oficialmente reconhecidas

(Grifos Nossos)

No ano de 1972, em plena ditadura militar, foi criada a Lei 5842/1972, dispondo que os bacharéis em direito que tivessem realizado estagio de prática forense e organização judiciária no âmbito das faculdades de direito, estariam dispensados do exame da ordem e da comprovação do exercício e resultado de estagio profissional. Tal regulamentação legal, criada no auge do regime de exceção, oriundo da ditadura militar implantada no Brasil, de forma irresponsável ou até mesmo com animus futurista, achando que as instituições de ensino nacionais iriam se preocupar com a qualidade do ensino jurídico no país, deixou a cargo das faculdades o programa de estagio para inscrição na ordem dos advogados do Brasil, o que, findou por acarretar problemas jurídicos e educacionais que até os dias atuais se arrastam.

A posteriori, após o fim da ditadura militar, e promulgação da constituição de 1988, foi editada uma nova lei regulamentadora da profissão de advogado, aprimorando as diretrizes a serem seguidas, todavia, dificultando o acesso aos quadros, prejudicando assim, milhares de pessoas, consumidores e colegas de profissão que deveriam ser defendidos pela classe.

No tocante aos problemas educacionais, não nos cabe comentar a fundo, pois, já são conhecidos por toda a sociedade. Embora exista uma boa intenção do estado em querer ver o aumento no índice de alfabetizados no país. A forma pela qual ocorre o incentivo à educação é no mínimo irresponsável, vez que, a desenfreada abertura de instituições de ensino no país cresceu rapidamente, inversamente proporcional a fiscalização das instituições, que acabam por diplomar acadêmicos não aptos a exercer o mister profissional à que foram talhados.

Quanto aos dissabores jurídicos, estes sim, são focos do presente artigo, vez que, o atual estatuto dos advogados, Lei 8.906/1994, não homenageou princípios magnos basilares do direito brasileiro, tais como isonomia, legalidade, livre associação e livre exercício da profissão, a partir do momento em que foi estabelecido um teste de nível, para selecionar os profissionais que podem ou não exercer a profissão, não oportunizando a TODOS, a igualdade que lhes deveria ser peculiar.

A nosso ver, ofende, ainda, o princípio da separação dos poderes, não que estejamos considerando a Ordem dos Advogados um poder político, mas, a existência do exame da ordem, desprestigia a autonomia do poder executivo, este sim, verdadeiro possuidor da obrigação de avaliar e coagir as instituições de ensino superior nacionais à prestação de bons serviços educacionais. A existência de tal norma (obrigatoriedade do exame da ordem), diferente do que a OAB defende ou enseja, corrobora com a má gestão pública, uma vez que, não exerce seu mister, que é além de defender os interesses da classe advocatícia, defender a sociedade e o direito nacional. No caso em baila, cobrar do estado a sua obrigação, para que faça jus ao seu poder de polícia e exerça rígida fiscalização nas instituições de ensino.

Mas a contra senso, a OAB, utiliza-se da autotutela, instituto esse desprezado do ordenamento pátrio, para selecionar quem está apto ou não a exercer a atividade advocatícia, ceifando assim a inscrição dos candidatos que não atingem o nível exigido pelo examinador.

A afronta à legislação é nítida, pois além de afrontar a própria constituição conforme se pode vislumbrar no artigo 205 da Constituição de 1988, que dispõe que o ensino qualifica para o trabalho, vejamos in verbis:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Nesse sentido também dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:


Art. 43. A educação superior tem por finalidade:

I - Omissis
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
III ao VII- Omissis

(Grifos Nossos)

De tal sorte, a exigência para que bacharéis em direito sejam submetidos a exame de aferição de capacidade, vai de encontro aos ditames constitucionais, considerando que, as qualificações exigidas pela lei, devem possuir o mesmo intuito que o legislador constituinte referenciou, ou seja, formação, conforme se viu nos artigos supramencionados.

Deve-se ainda, levar em consideração que, o órgão de classe, limita-se a verificar e fiscalizar o exercício da profissão, no caso da Ordem dos Advogados do Brasil, por tratar-se, a advocacia como parte essencial ao funcionamento da justiça, a classe deve também funcionar como fiscalizadora dos ditames legais, e desta forma, não poderia jamais aceitar que a lei que rege o seu próprio exercício torne mais dificultoso o acesso dos bacharéis aos quadros da OAB, por pura omissão do estado, quando, editou a Lei 5842/1972, prejudicando assim o ensino jurídico no país.

É mister daqueles que devem defender a legalidade, exigir das autoridades “competentes” maior rigidez na aplicação do ensino no país, e não, tornar dificultoso a vida de milhares de profissionais que se qualificam e ficam impedidos de exercer a profissão pelo fato dos órgãos institucionais deste país não executarem as tarefas destinadas às suas competências.

Como se o exame da ordem dos advogados já não fosse bastante polêmico, a Lei nº 12.249/2.010 instituiu o exame de suficiência para os profissionais da contabilidade, deixando, assim, de ser privilégio somente dos bacharéis em direito, o exame de nível profissional, agora também os contabilistas estarão inclusos nesse pesar.

EMANUEL ARRUDA