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segunda-feira, 13 de junho de 2011

PÁSCOA

- Papai, o que é Páscoa?
-Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!
-Igual ao Natal ?
-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa,
se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
-Ressurreição?
-É, ressurreição. Carmem, vem cá!
-Sim?
-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele
ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
-Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
-O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu ! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola ? Deus me perdoe ! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
-Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
-É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
-O Espírito Santo também é Deus?
-É sim.
-E Minas Gerais?
-Sacrilégio!!!
-É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?
-Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!
-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
-Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
-Coelho bota ovo?
-Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
-Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
-Era... era melhor,sim... ou então urubu.
-Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia ele morreu?
-Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
-Que dia e que mês?
-Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
-Um dia depois!
-Não três dias depois.
-Então morreu na Quarta-feira.
-Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como ? Pergunte à sua professora de catecismo!
-Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
-É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
-O Judas traiu Jesus no Sábado?
-Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!!
-Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
-Ui...
-Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
-Cristo. Jesus Cristo.
-Só?
-Que eu saiba sim, por quê?
-Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
-Ai coitada!
-Coitada de quem?
-Da sua professora de catecismo!

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

sábado, 4 de junho de 2011

SOCIEDADE DE PLÁSTICO


SOCIEDADE DE PLÁSTICO

Nas últimas semanas do mês de abril, a indústria fonográfica do forró, dito, eletrônico se sentiu ofendida pela declaração do então secretário de cultura da Paraíba, o cantor e compositor, Chico César

Chico César, teria dito que a secretaria de cultura da Paraíba não iria destinar recurso a essa modalidade de forró, por atribuir a mesma, o título de plástico, além de, ter refletido sobre o sufocamento sofrido pelo forró tradicional proporcionado pelo monopólio fascista dos anti-democráticos da indústria dos “jabás”. 



A declaração de Chico César, externa apenas a ponta do “ iceberg”. Se o forró eletrônico, de músicas pornográficas e de incentivo ao alcoolismo irresponsável, é considerado plástico, logo, descartável, imagine outros temas da sociedade. 

Quando olhamos para a moda, temos o velho tornando-se novo e o velho virou o sinônimo de moderno.

O que falar dos ditos valores morais, que de morais não tem quase nada, preservam uma aparência que quando desvelados, externam um amoralismo que escandalizaria até, o maior mal caráter.

O pior de se ter uma sociedade de plástico é que embora tudo seja descartável, a sua descartabilidade provoca impactos incalculáveis à humanidade.

O plástico embora leve um pouco mais de quatro mil anos para se decompor, o seu impacto ao mundo é irreparável. Essa descartabilidade da sociedade de plástico provoca um efeito um tanto quanto curioso. 

Se todos os conceitos, valores, normais e comportamentos são criados e extintos a todo estante, todo e qualquer comportamento que priorize a durabilidade, a permanência e as continuidades é menosprezado e reprimido. 

Por exemplo, Chico César por ter uma posição clara e fundamentada sobre o assunto, foi taxado de preconceituoso e ditador, mas se o mesmo tivesse tido um posicionamento sem fundamento e justificável teria uma maior aceitação.

Mas se analisarmos as justificativas de Bruna Surfistinha sobre a sua biografia de plásticos, onde a mesma declara que a sua entrada na prostituição tem um caráter de crítica à sociedade, pelo contrário, temos a visível e notória falta de heróis da sociedade brasileira, bem como, a sua necessidade de criar ícones plastificados que nada contribuem e só são notados, pela polêmica momentânea que causam.
Mas, como atendem ao dilema da descartabilidade e das justificativas infundadas, viram filme e entram na lista de “best-seller” dos mais lidos da Revista Veja.

Embora o quadro não seja positivo, quanto a todas as essas fragmentações, resta a todos nós, a busca de valores que se renovem e sejam reaproveitados pelas novas gerações. O espanto diante da normalidade deste conceito “ o novo sufoca o novo” da sociedade de plástico exige, antes de mais nada, sair da zona de conforto que inevitavelmente, resulta em enxergar o óbvio e buscar todos os norteamentos da vida a partir da ética. 

KILDERY AMORIM MACIEL