CLIO & ORPHEU
À Marina Maluf
Ele murmurou d’um sono crepuscular:
- “Adonde vais pelos confins do Esquecimento,
A erigir cinzas, ruínas do Firmamento,
Sem que possa em vós a Dor infinda calar?”
Ela retrucou d’um furioso devorar:
- “Venho dos turbilhões, dos sonhos e dos ventos,
Das lembranças, dos rumores que outrora o tempo
Ecoou pelos cantos do silenciar”.
E num bardo, eles rumaram ao horizonte,
Amaram-se nas águas do triste Aqueronte,
Sabendo então que a Noite é fria e tumular.
Pobres argonautas nas vagas do Mistério...
Níveos vapores nas brumas d’um cemitério
Seguem doravante no brilho do luar.
* PASSOS, Gleudson. “Clio & Orpheu” IN: Melancholia – Fortaleza: Casa de José de Alencar-UFC/Edições Academia da Incerteza, 1999.