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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

CONTRASTE

CONTRASTE

Diante dos meus olhos,
Bordada de luz,
Se expande
A cidade grande.

E no Livra da Vida
A noite escreve
A história dos homens:
De um lado, a prisão
O casebre
A solidão;
Do outro, o dinheiro
O poder
A mansão

Miséria
Vício
Luxúria
Paixão

Aqui, o grito:
_Existo!
Ali, o lamento:
_Desisto...

E nas esquinas da vida
O Destino conta histórias
lágrimas... sorrisos,
encontros... adeuses,

sonhos dourados
desejos proibidos
paz... guerra
céu... terra
tudo... nada!

Rosimar Brito

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O QUE FAZEM OS VAGALUMES DE DIA

O QUE FAZEM OS VAGALUMES DE DIA
De: Luis Fernando Verissimo, (Comédias da Vida Privada)

- Pa-ô-la (desde o começo ele a chamara assim, como se o nome dela fosse espanhol), este nosso caso... 
- Que caso? 
- Nós não estamos tendo um caso? 
- Que idéia, Dan! 
Ele se chamava Daniel. 
- Se nós não estamos tendo um caso, estamos tendo exatamente o quê? 
- Sei lá, mas caso não é. 
- Pa-ô-la... 
- Caso é assim uma coisa clandestina. Adultério. Precisa ser casado. 
- Acho que quando tem sexo no meio, é caso. Independente do estado civil. 
- Que idéia! Nada disso. O que nós estamos tendo é um namoro. 
- Não. Namoro eu conheço. Não é namoro. 
- Então é amizade. Só porque a gente dorme junto não pode ser amizade? 
- Pa-ô-la. Há sete meses nós só dormimos um com o outro. Nos vemos todos os dias. Andamos abraçados na rua. 
- Então. Uma boa amizade. 
- Comemos sorvete de casquinha com a mesma colher, Pa-ô-la. 
- E daí? 
- Em certas sociedades primitivas, comer sorvete de casquinha com a mesma colher vale mais do que pacto de sangue. 
- Não vem. 
- E o que você diz quando você está tendo um... 
- Eu sei o que eu digo! 
- “Dan, Danzinho, amor, vida, paixão.” 
- É a emoção, ora. Nessas horas a gente diz qualquer coisa. Uma amiga minha grita o nome de todos os apóstolos. E você, que quando me vê só falta chorar? Mesmo que a gente tenha dormido junto na noite anterior. Oito horas sem me ver e faz um escândalo. 
- Mas eu estou tendo um caso com você. Um caso muito bonito. Pena que você não esteja participando dele. 
- Não vem, Dan. 
- Não. Tudo bem. Somos apenas bons amigos. Onde está escrito “Dan, Danzinho, amor, vida, paixão”, leia-se “Ai que bom”. 
- Está certo. Não é amizade. Mas não é caso. 
- Romance. 
- Também não. 
- Um espasmo. Um descontrole hormonal. 
- Pára. 
- Uma história. 
- Isso. Uma história. Está rolando uma história entre nós. 
- Que tipo de história? 
- Como, que tipo? 
- Cômica, séria, trágica... Acaba como? 
- E eu sei? 
- Só pra minha orientação. 
- Por que isto, de repente? Por que esta preocupação? Estamos tendo um ca... uma história legal, sem grilo... 
- Mas nós não sabemos o que é. Você não tem necessidade de saber o que está acontecendo com você? 
- Pra quê? Deixa acontecer. 
- Imagina se esta história acaba num crime. Tudo que está acontecendo agora ganha outro significado. Nós podemos estar vivendo o prólogo de uma tragédia sem saber. Se a gente soubesse o que é, e como acaba... 
- Ah, é? Se eu soubesse que você ia me matar no fim, sabe o que eu fazia? Matava você agora. Rá, rá. Mudava o fim. 
- Exatamente! Nós precisamos saber o que está nos acontecendo para agir conscientemente, para aproveitar melhor a história e até mudá-la. 
- E, mesmo, você é incapaz de matar uma mosca. 
- Mas você não me viu com mosquitos. 
- Quer saber de uma coisa? 
- Uma vez, quando eu era guri, desmembrei uma formiga. Você não me conhece. 
- Me ouve. 
- E se esta história acaba em casamento? Filhos, essas coisas. Hein? E se acaba em almoços de Domingo e planos de saúde? Nós precisamos saber no que estamos nos metendo! 
- Sabe que eu acho que vou mesmo matar você? Assim você fica sabendo o fim e pára de chatear. 
- Pa-ô-la... 
- Taí. É um conto. 
- Um conto?! 
- Daqueles que começa no meio de um diálogo, não acontece nada e termina no ar. Ninguém fica sabendo o que vai acontecer depois. 
- Não faz isso comigo, Pa-ô-la. 
- Com um título que não tem nada a ver com nada. 
- Um conto, Pa-ô-la? Isto é só um conto? Um naco de história? Um diálogo perdido? Um...

Fonte:

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

ENTREVISTA COM O INVENTOR PAULO GANNAM

https://jornaldelfos.blogspot.com.br/2018/01/paulo-gannam-inventor.html
ENTREVISTA COM O INVENTOR PAULO GANNAM


Grandes ideias surgem de necessidades muito simples e observáveis por qualquer pessoa que esteja de antena ligada
(Paulo Gannam)


O local de trabalho de Paulo é em São Lourenço-MG. Formado em Jornalismo pela Universidade de Taubaté e Especialista em Dependência Química pela Universidade de São Paulo.

Ateu Poeta: 1- Diga-nos qual o seu Estado, descreva um pouco de quem você é e porque você virou inventor.

Paulo Gannam: _Sou de São Lourenço, Minas Gerais. Mente acelerada tenho desde criança, mas foi somente aos 23 anos que comecei a usá-la em favor da criação – ao perceber que os guarda-chuvas eram inúteis para proteger a metade da frente de nossos calçados. 

Observei o óbvio, que a água perpassava os sapatos, molhava as meias, causando incômodo e frieiras. Comecei aí a bolar uma “roupagem” sofisticada para as antigas galochas (aquele solado 100% borracha usado até em sítios para proteção).
Exemplo de “sapatos-galocha”. Na década de 50 e 60, eram comuns botas de mesmo material usadas para proteger os pés da chuva ou da lama, no enfrentamento de ruas não calçadas e alagadiços.

Esse insight gerou até um artigo à época, intitulado “Uma obra-prima de borracha” http://www.portalimprensa.com.br/noticias/carreira/1524/pbquotobra+prima+de+borrachaquot++balguem+vai+ficar+rico+por+paulo+gannammas como eu estava na faculdade de comunicação, foi, como dizem, “fogo de palha”, acabei não levando adiante a ideia por estar envolvido em outras atividades. Mas ali começava a nascer esta tendência para criar coisas que poderiam solucionar problemas cotidianos...

Em 2009, após ter me tornado "religioso" apreciador de creme de açaí na tigela, comecei a bolar uma máquina para converter a polpa do açaí num creme com uma consistência dos deuses que eu tinha conseguido obter com experiências manuais caseiras.

Passei quase um ano tentando montar a máquina com um projetista de máquinas, mas fracassamos. Daí me rendi, pois não tinha mais dinheiro para investir.

Só que o tino para invenções começou a me cutucar um ano depois, época em que comecei a ter graves crises de enxaqueca que me impediam de executar tarefas que exigiam muita raciocínio e profundidade intelectual.

Ao ficar meio que “à deriva” no mundo, tinha mais tempo (na verdade fui obrigado) para “pensar na vida”, e comecei a ter ideias em pacote. No auge, tinha de 15 a 20 ideias por dia apenas observando o comportamento das pessoas e o funcionamento deficiente dos objetos. Peneirei algumas delas e levei a um escritório de propriedade intelectual. Começava ali oficialmente meu trabalho como inventor.

Quando tudo o resto falhar ou faltar resta-nos a imaginação.
(Albert Einstein)

AP: 2- Descreva as suas 3 invenções principais ou que mais chamaram atenção das pessoas até agora.

PG: _a) A primeira delas é de um sistema de comunicação entre motoristas e motociclistas que irá permitir uma integração completa da comunicação no trânsito, e que vai muito além dos aplicativos de trânsito hoje disponíveis, abarrotados de recursos, e pouco eficientes no envio de mensagens diversificadas de um motorista a outro. 


Por meio de botões contendo mensagens pré-gravadas você poderá enviá-las com um único clique aos motoristas que desejar – em áudio ou texto. 


Quem não tiver o aparelho instalado no veículo, vai poder receber mensagens da mesma forma, porque foi bolado um aplicativo voltado especificamente para a comunicação e capaz de interagir com os aparelhos comunicadores. 


Exemplos de mensagens: “luz de freio queimada”, “pneu murcho”, “luz de ré queimada”, “porta entreaberta”, “pessoa doente no carro”, “vocês está sem cinto de segurança”, “socorro, estou passando mal”, “farol alto”, “desculpe”, “obrigado”, “saindo de uma vaga, favor reduza a velocidade”, e assim por diante.

Aqui se encontram os primeiros protótipos, apresentados no Salão do Inventor Brasileiro. Segundo Gannam, as formas de fazer podem ser muitas, dependendo da que se mostrar mais segura e eficaz para prevenir acidentes e fomentar a comunicação entre motoristas.
Ilustração da possibilidade de comunicação entre algum agente de trânsito e o motorista. Neste caso, o agente de trânsito pode enviar uma mensagem em texto ou via voz, que migraria para o aparelho ou para o aplicativo do motorista.

Aqui um exemplo de envio de mensagem ao motorista da frente. Exemplo: você quer avisá-lo de que a luz de freio dele está queimada. Com apenas um clique, ou via comando de voz, será possível avisá-lo com segurança e objetividade sem perder a atenção na direção.

b) A segunda invenção é de um conjunto de sensores que auxilia o motorista a fazer baliza e a evitar o choque dos pneus, das rodas e das calotas durante estacionamento e encostamento junto à calçada. Ele é de baixo custo, de fácil instalação, e infinitamente mais barato e eficiente que estes park assist tradicionais hoje disponíveis no mercado e presentes somente em veículos mais caros, encarecendo-os em cerca de R$ 6 mil reais.

Exemplo de colisão das rodas nas calçadas, sem se estar usando ré. O invento é menos de um sexto do preço dos dispositivos hoje disponíveis no mercado.

Aqui você pode encontrar um exemplo de uma das provas de conceito desenvolvidas, demonstrando como o produto funcionaria. 

Um jogo aproximado de 4 sensores fazem a leitura do ambiente e detectam a proximidade do fim da manobra e da presença de algum obstáculo.

Este auxiliar de baliza e de alinhamento do veículo junto à calçada pode estar conectado ao painel do veículo, a um aplicativo, ao cluster e assim oferecer as informações e instruções ao motorista durante a manobra.

c) Um outro projeto diz respeito a um protetor de unhas destinado a uma doença que acomete de 19% a 45% da população, e costuma começar na infância. Uma película que reveste as unhas de roedores de unhas (onicofagia) de modo elegante e discreto.

Hábito gera ferimentos, sangramentos, dificuldade de digitar, tocar violão, é anti-higiênico e deixa a autoestima da pessoa baixa.

O protetor inibe um hábito autodestrutivo e ajuda o usuário a identificar quais pensamentos e emoções estão envolvidos na compulsão. Sem efeitos colaterais dos medicamentos, podendo ser usado por adultos e crianças, dependendo do material.

Já para aqueles que preservam bem as unhas, concebemos uma lixa para unhas três em uma com um formato inovador cujas extremidades lembram as de uma espátula. 

Assim, você pode lixar as superfície das unhas sem incomodar o tato e sem gerar esfoliações na pele que fica logo ao lado da cutícula, um problema bastante observado nas lixas que tem mais de duas funções no mercado.

Suas funções consistem em uma parte dar brilho, outra, lixar a superfície das unhas, e, entre as pontas, no cabo dessa lixa, há uma superfície circular para lixar o contorno da unha com diversos graus de aspereza – espessura em sua circunferência, conforme preferência do usuários.

AP: 3- O que você acha da espera por 11 anos na média para se patentear algo no Brasil?

PG: _Uma vergonha nacional. Precisamos nos organizar e cobrar cada vez mais dos governantes e legisladores ampliação do quadro de funcionários do INPI. 

Um país que não investe em ciência e tecnologia ficará cada vez mais atrasado e dependente de tecnologias e produtos vindos de fora, e pagará caro por isso. Tecnologia e inovação geram empregos, renda, e impostos que mantem toda uma sociedade, além de incontáveis avanços na qualidade de vida das pessoas.

Nada pode ser mais importante do que isso. A demora é tão insuportável e custosa. Dos 22 mil pedidos de patente processados em 2016 no Brasil, 68% foram retirados ou abandonados pelo solicitante. Em 2017, dos 41 mil pedidos processados, 78% do total foi retirado e arquivado por falta de pagamento de taxas – que por si só já são doentias. Porque quem inova está fazendo um favor ao Estado, não o contrário.

Deveria haver todo o tipo de incentivo para que, por exemplo, pessoas físicas, inventores independentes, pudessem depositar seu pedido e ter uma análise acelerada do processo. Esses inventores, PF’s, residentes no Brasil, foram responsáveis em 2017 por aproximadamente 47% dos pedidos de patente de invenção e por cerca de 68% dos pedidos de patente de modelos de utilidade protocolados no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).

Então, essa demora e falta de vontade política em melhorar a situação coloca o Brasil em último lugar no ranking de tempo médio para analisar pedidos de patente. 

De 62 países analisados, ficamos em último, (estando atrás até do Vietnã!), conforme destacou reportagem publicada na Folha de S.Paulo em 31 de Dezembro de 2017.

AP: 4- Quantas invenções você já criou até agora?

PG: Até o momento, foram 5 com patente depositada, sendo que algumas delas tiveram desdobramentos importantes levando a outras versões de produtos. 

Além destas invenções, tenho mais de 800 ideias "cruas" estocadas, não desenvolvidas e sem patente, somente breve descrição apontando um problema e sua solução pela criação de um novo produto.

AP: 5- Qual o seu recado para possíveis investidores nos seus projetos e o que você diria para incentivar novos inventores?

PG: _Aos investidores, tenho 4 projetos com patente depositada disponíveis para licenciamento ou sociedade, encontráveis neste link: https://paulogannam.wordpress.com/

Aos novos inventores, não saia por aí inventando, patenteando e torrando dinheiro feito um bobo só porque você achou sua ideia, ou suas várias ideias, legal. 

Eleja somente uma ideia e teste ela com as pessoas. Pois ter boas ideias é muito relativo. Vai depender de muita análise até você poder tachar uma ideia de “boa” ou “má”. E mesmo depois de muito estudo, ainda vai sobreviver uma faísca de incerteza sobre sua conclusão. 

Estude conceitos de “inovação de valor”, “startup enxuta”, “estratégias de marketing”, e "curvas de intersecção tecnológica”. Isto vai te dar a base teórica e lhe fornecer orientação para trilhar os primeiros passos para executar sua ideia e aprender a conviver com a incerteza.

Quanto a ter ideias, independentemente do fator comercial, eu costumo dizer que “brainstorming vem com alguma dose de vagabundagem”. Ócio ajuda bastante, irritação, vontade de fazer diferente, e alegria em predispor sua mente a perceber problemas e, de imediato, pensar em algo que poderia ser criado para resolvê-los. Vá tomar um cafezinho, colocar o pé na estrada, isso ajuda muito a ter insights.

Anote bem: Sempre que você enxergar um problema, pense imediatamente em uma solução ou pelo menos anote o problema para depois pensar na solução. Isso pode acontecer na hora do almoço, quando você está no banheiro, e até numa acalorada discussão. É um tipo de condicionamento bem útil para manter acesa a luz da criatividade.

Ateu Poeta
09/01/2018
Ceará-Minas Gerais
Entrevista realizada via e-mail

Informações de Contato do inventor Paulo Gannam:

Tel.: (35) 9 8404 4124


Anexos: