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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

ENTREVISTA COM ASA HEUSER E ANDRESSA

Esta é a 5ª entrevista. Aqui, converso com duas riograndenses, simultaneamente.

Asa Heuser mora em Guaíba, RS. É professora de Inglês e Sueco.


Andressa mora em Venâncio Aires, RS. Não tem trabalho fixo, faz “bicos” de atendente e babá.

Vamos à entrevista:

Ateu Poeta: O que vocês estão achando do caso Datena?

Asa Heuser: O que deu para perceber foi que há uma atitude generalizada de que os ateus são pessoas automaticamente sem moral, e o Datena reforça esse preconceito cada vez que usa o seu bordão "Isso é coisa de quem não tem deus no coração".

Esse bordão ele usa há muito tempo, e a princípio eu tenho a impressão de que era mais direcionado a determinada vertente religiosa, que seria "coisa do capeta", na opinião do apresentador.

Já no dia 27 de julho de 2010, ele realmente se referiu diretamente a ateus e nesse caso acho que também houve uma motivação política no discurso dele.

Duas fontes independentes, CNT/Sensus e Fundação Perseu Abramo, já constataram que os ateus são uma categoria que tem a antipatia da maioria dos brasileiros.

Se o saudoso Betinho (Herbert José de Sousa) ou o Drauzio Varella se candidatassem a presidente neste país, perderiam as eleições apenas por serem ateus, mesmo sendo eles uns dos maiores benfeitores no Brasil.

Muita gente odeia os ateus porque não conhece nenhum. O que o Datena fez foi apoiar o preconceito e o ódio que estão aliados a esta ignorância.


Andressa: Eu não cheguei a ver ele na TV, pois não assisto, mas li um pouco sobre o caso na internet, é revoltante!

Não da para entender como um cara desse ainda pode ter um programa na TV!

Ele deveria pedir desculpas publicamente aos ateus e no mínimo tirarem ele da TV!

Ele é um babaca que se empolgou e nem deve ter visto a merda que fez.
AP 1: Por que será que confundem criminosos com ateus?

Asa: Porque esta é uma imagem convenientemente divulgada e reforçada pelas religiões para assustar os seus fiéis, com o fim claro de afastá-los de qualquer convívio com pessoas assim, para que não sejam influenciadas.

O "perigo" real é eles descobrirem que os ateus são pessoas normais, nem melhores nem piores que as demais.

Andressa: É pelo fato de ainda crerem que quem não tem Deus no coração é um monstro, a maioria acha que para sermos bons temos que ser fies a Deus, o que só mostra o quanto são ignorantes.


AP: O que os ateus podemos fazer para que se diminua o preconceito para conosco?


Asa: Devido ao preconceito muito forte é difícil para muitos assumir publicamente o seu ateísmo, mas esse seria um passo necessário para que ficasse claro que tipo de pessoas nós somos.

Por enquanto, só os que não correm o risco de sofrer represálias é que podem fazer isso, e a estes cabe, na medida do possível, divulgar o máximo de conhecimento e informação sobre o assunto para que possa haver uma mudança de opinião por parte das pessoas.

Estamos aqui para dizer "muito prazer, somos ateus e cidadãos como você, e não merecemos seu ódio".

Organizações como a Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS), da qual sou vice-presidente, estão aqui para trazer esta mensagem, entre outras.

Andressa: Saírem do armário é um bom começo.


AP: Vocês já tiveram religião ou não, e se tiveram, por que hoje permanecem no ateísmo?

Asa: Quase todos os ateus foram criadas em lares religiosos. Comigo foi diferente, fui criada em uma família de ateus mas, mesmo assim, eu tive uma fase religiosa, de busca por alguma resposta "espiritual".

O ateísmo se torna praticamente inevitável, não é uma decisão, mas uma conclusão, a partir da análise de todos os argumentos em favor da existência de um deus.

Chega uma hora em que chegamos à conclusão de que os argumentos não convencem de jeito nenhum, e passamos a buscar respostas no mundo natural, através da ciência - que é uma atividade incompleta e imperfeita, e humilde o suficiente para admitir isso em vez de alegar ter a verdade absoluta.

Se os religiosos discordam de nós, tem todo o direito de fazê-lo com argumentos. Ter ódio de nós não vai resolver o debate sobre a existência de um ou mais deuses.

Andressa: Fui criada em uma família católica e fui batizada, não cheguei a fazer primeira comunhão não lembro o porquê, mas me recusei a fazer.

Eu tinha medo e duvidar da existência de Deus e de todos os outros santos, mas em uma aula de filosofia no ano passado nosso professor falou sobre questionar tudo, e foi o que eu fiz e vi quanta coisa errada tinha ali.



AP: Que providências, para vocês, o Brasil deveria tomar para que o preconceito religioso acabe, ou pelo menos diminua, uma vez que somos um Estado Laico?


Asa: O ensino religioso nas escolas públicas devia ser abolido, e deveria se ensinar a história das religiões nas aulas de sociologia e história, de forma neutra.

O ensino religioso deve ser restrito à igreja da preferência de cada família, e nas escolas particulares abertamente confessionais.

Um excelente texto que ilustra bem o problema pode ser encontrado nesse link, numa postagem feita no blog Bule Voador, o blog oficial da LiHS:

"Pesquisa da Universidade de Brasília conclui que o preconceito e a intolerância religiosa fazem parte da lição de casa de milhares de crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro."



Andressa: Acho que assim como acontece com o preconceito racial deveria se criar um disque denúncia e por na cadeia os preconceituosos!

Todo o tipo de preconceito deve ser punido! Para começo, não ter medo de mostrar suas opiniões e mostrar que ser ateu não é coisa do outro mundo.

ATEU POETA
Ceará-Rio Grande do Sul

Entrevista concedida via e-mail.