ENTREVISTA COM GCM
AP:_Você foi expulso de um colégio por ser ateu. Conte como foi.
GCM: Comecei a ser ateu muito cedo, isso se passou na quarta série. Mudei para um colégio público por problemas financeiros na época, a minha professora era uma mulher de ''mente fechada'', uns 40 anos de idade. Tinha o costume de ordenar que os alunos rezassem no início da aula, como nunca fui muito tímido, a confrontei na primeira oportunidade
Disse que eu não acreditava que um deus poderia existir (na época era muito novo, não conhecia a palavra ateísmo ainda). Logo, alguns bons minutos de discussão, ela me tirou da sala e ameaçou de ''me marcar'' durante o ano se eu continuasse com essa ideia. Não mudei de opinião, e fui levado a o diretor, repeti as mesmas palavras lá.
Meus pais foram chamados a escola, o diretor que era padre, também, estava inconformado. Chegou a dizer que eu precisava urgentemente ir a igreja. Depois de uma longa discussão com os meus pais, fui liberado a voltar a aula, 3 dias depois
Passaram-se 2 meses, a professora me incomodava, me usava como exemplo para tudo e fazia piadinhas na sala sobre eu não acreditar em Deus. Um dia, levantei e saí da sala, sem dar avisos. A professora foi atrás de mim, ameaçou de me dar um tapa, na época usei alguns palavrões, tentei fugir da escola, porém fui segurado. Meus pais vieram a escola, e depois de 2 horas de discussão sem a minha participação, minha mãe veio chorando a o meu encontro, dizendo que eu não precisaria mais vir a aula.
Isso foi no final do ano, eu já tinha nota para passar, por isso não perdi nada. Tempo depois, quando tinha idade pra entender, me contaram que eu fui expulso, e que meus pais procuraram a prefeitura para conversar sobre o caso. Já haviam 2 pais processando a professora e o diretor por outros motivos, e fomos aconselhados a não entrar na justiça. E assim fizemos.
A história em si, é isso.
AP: Na prática ela cometeu um crime, e não foi feito nada. Hoje chamariam também de bulling.
GCM: Na época esse conceito ainda não existia no Brasil
AP: Seus pais, se tivessem orientação correta, poderiam processar a escola em si, além da própria professora. Mas, a professora, hoje continua lecionando?
GCM:Eu me mudei de cidade, não sei a o certo
mas no momento que eu me mudei, 2 anos atrás
ela ainda continuava dando aulas.
AP: A primeira entrevista que fiz foi com um ateu. Expulso de um colégio por seu ateísmo.
GCM: Caso parecido com o meu?
AP: Mais ou menos. Dá uma lida: https://jornaldelfos.blogspot.com/2019/09/entrevista-com-silveira-viana.html
Ele que me deu a ideia de fazer entrevistas, inclusive.
GCM: Tô lendo, parece legal.
AP: Ele ganhou 15 mil da escola.
GCM: Terminei, ridículo a atitude de ''onde meus alunos vão chegar com um professor ateu?''. Eu teria respondido: ''muito mais longe''.
AP: Com certeza. Dos poucos ateus que existem se destacam dentre as maiores mentes da humanidade.
GCM: Sim.
AP: Sem ir longe, o criador do Facebook e o Bill Gates estão dentre os mais ricos. Você admira algum ateu? E por quê?
GCM: Então, em particular, não, eu procuro pensar por mim mesmo. Não tenho uma ''admiração'' muito grande por ninguém em especial. Respeito todos, claro; são grandes mentes, mas, como virei ateu por conta própria, sem nem mesmo influência de amigos ou pais, nunca criei admiração por nenhum nome em especial.
AP: Como foi o seu processo de virar ateu? Como descobriu que não existia Deus?
GCM: Quando criança, minha família tinha o costume de ver documentários em casa nada relacionado a religião, apenas documentários científicos eu comecei a gostar realmente de ciência, e ter uma explicação ótima para as coisas que eu procurava saber. Logo, no mesmo tempo, me apresentaram a religião que, ao contrário do que eu era acostumado, não me dava uma certeza de como as coisas funcionavam. E, de cara, eu não aceitei.
AP: Muito precoce, então, mas, posso dizer, então, que a TV ajudou nesse processo? Você era de ler muito também?
GCM: Sim, quando comecei a gostar de ciência li muitos livros mais infantis que achava interessante na época, eu devia ter uns 10 anos um que eu lembro era uma série que o nome era ''como o mundo funciona?'' São coisas pequenas, mas que me ajudaram muito a ter paixão por informação que fez eu realmente virar ateu.
AP:Assistia "o mundo de Beakman"?
GCM: Já assisti, claro.
AP: É como se você nunca tivesse sido religioso, então?
GCM: É, mais ou menos isso.
AP: Pra fechar: deixe um recado para as pessoas que não sabem o que é ateísmo.
GCM: Não tenha medo de se tornar livre.
ATEU POETA
Ceará-Paraná via Facebook