CANTATA
eu tenho uma saudade circulando nas veias
saudade que gira, que me entontece
uma saudade que me compõe
que se me impõe
fora de mim é frio
o amor que esquento entre as vísceras
escondo das hienas
fora é frio e o vento fere
pele sobre pele
enquanto minha poesia se dissipa
eu tenho uma saudade que me assusta
e que me aquece
uma saudade no sangue
rubra
amarela
furta cor
da cor que eu pintar
e tenho as cores que quero
e as que não quero
cá em mim
fora é frio, mas tem os lábios
sim, os lábios
tem os lábios que me banham
e das certezas que não tenho
acomodo-as num ventre quente de mulher
aconchego-me
assim rasgo o tempo
canto horas que ouvi
carrego dias